Subclássicos: FLIPPER — Album – Generic Flipper (1982)
Discoteca Básica de noise-rock, metal extremo, post-rock, noise, experimental e outras tags subterrâneas
Em meio ao turbilhão veloz e agressivo do hardcore californiano do início dos anos 1980, o Flipper soava como um alien. Enquanto bandas como Black Flag, Dead Kennedys e Circle Jerks tocavam cada vez mais rápido e intenso, o Flipper caminhava na direção oposta, apostando na lentidão e dissonância.
Lançado em 1982, Album – Generic Flipper, álbum de estreia do Flipper, não apenas quebrou as expectativas do que era “punk” naquele momento, mas também semeou o terreno para o surgimento de várias vertentes do noise-rock, sludge e grunge. Baixos distorcidos e repetitivos, guitarras dissonantes, bateria minimalista e vocais caóticos compõem um som que é ao mesmo tempo claustrofóbico e hipnótico. Faixas como “Life” com sua ironia e pessimismo; “Life Is Cheap” com seu vocal alienígena lembrando uma espécie de The Residents noise-rock; e especialmente “Sex Bomb” — um mantra punk com sax que atualiza os Stooges de Funhouse para os anos 80 —, exemplificam a estética do Flipper de transformar a crueza e o erro em linguagem artística. Em vez de energia explosiva e velocidade, o grupo entregava sarcasmo, peso e lentidão, o que chocava e fascinava ao mesmo tempo.
Historicamente, Album – Generic Flipper pode ser visto como um elo crucial entre o punk e as sonoridades mais pesadas e experimentais que surgiriam depois. De um lado, o Flipper absorvia a iconoclastia e a simplicidade do punk; de outro, distorcia tudo em algo mais sombrio e corrosivo. Sua abordagem lenta e repetitiva antecipou a estética do sludge metal (Melvins, Eyehategod, o My War do Black Flag), enquanto o barulho e o desprezo por estruturas convencionais abriram espaço para o noise-rock de bandas como Big Black, Sonic Youth e Jesus Lizard. Até mesmo o grunge de Seattle reconhece a dívida: o Nirvana não apenas homenageou o Flipper (Kurt Cobain chegou a usar a famosa camiseta com o logo da banda), como também incorporou sua estética ruidosa e decadente em canções de sua fase inicial, além de ter Krist Novoselic como membro efetivo da banda durante os anos 2000.
Album – Generic Flipper soa como um lembrete de que a contracultura punk não precisava ser apenas velocidade e agressividade, mas também podia ser lentamente corrosiva. Com o tempo o álbum se tornou um dos registros mais influentes e radicais do underground americano, uma peça fundamental no quebra-cabeça que conecta o punk ao noise, ao sludge, ao grunge e ao resto da história da música subterrânea.
Ouve essa aqui: “Sex Bomb”
FLIPPER — Album – Generic Flipper
Lançamento: abr/1982
Selo: Subterranean
Tags: #noise-rock, #punk-rock
Produção: Flipper
Subsensor é editado por Elson Barbosa.
Elson Barbosa é editor do Subsensor, produtor do selo Sinewave e baixista da banda Herod. Foi apresentador do podcast O Resto É Ruído, criador da plataforma de playlists comentadas contra.fm onde produziu os programas Noisenik, T20, Sinewave e Discografando, apresentador dos programas de rádio Noisenik na Antena Zero e Barulho na Rádio USP São Carlos, colaborador da #ListadasListas, editor do blog de playlists Discografando e colaborador bissexto em diversos sites de música.
Coincidentemente, tava ouvindo outro dia. Sempre achei que o Flipper tava tentando fazer pós-punk sem saber tocar o suficiente pra isso.